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Em audiência pública da Comissão de Educação, de Cultura e Esporte do Senado, o sociólogo Domenico de Masi debateu na última terça-feira, 27 de maio, as perspectivas para a humanidade para o futuro. O evento foi realizado numa parceria das Comissões UnB.Futuro e Senado do Futuro. O debate se deu por meio de um diálogo entre o senador Cristovam Buarque e o sociólogo italiano. Os intelectuais fizeram uma avaliação de vários aspectos do contexto em que vivemos, a partir das mudanças que as sociedades vêm sofrendo nas útlimas décadas.

Assista ao vídeo da íntegra da palestra.

Para Domenico de Masi, a humanidade passou por três grandes períodos históricos ligados à forma de trabalho. No primeiro, que teve início na Mesopotâmia e culminou no Iluminismo, a civilização atuava de maneira a desenvolver a agricultura e o artesanato. Na segunda fase, a sociedade industrial, o foco do trabalho estava nas fábricas e nas atividades mecânicas. A terceira fase, que teve início após a segunda guerra mundial, é caracterizada por uma sociedade pós-industrial, que produz uma grande quantidade de bens materiais, incluindo símbolos e elementos criativos.

Nessa nova era, em que se vê um mundo cada vez mais acelerado e com mais acesso a informações, percebemos uma sociedade desorientada, que, segundo Cristovam Buarque, se encontra numa encruzilhada e deve decidir um caminho a seguir. Para de Masi, essa desorientação é causada porque a sociedade pós-industrial é a primeira que possui um modelo de referências múltiplas e diferentes. Isso não acontecia nas sociedades passadas, que eram embasadas em valores bem definidos.

Segundo os dois debatedores, a responsabilidade por essa grande desorientação da sociedade está nas mãos dos intelectuais, a prori, e dos políticos, na prática. Isso porque os intelectuais deveriam pensar mais em diretrizes para a atuação dos políticos e estes acabam pensando demais nas situações do presente e se esquecem de refletir sobre o futuro.

Para de Masi, essa desorientação causa atualmente um movimento de depressão dos países: “Não temos mais princípios para viver e é difícil entender como as coisas funcionam”. Essa depressão, na visão dele, é um contrassenso, uma vez que temos nações cada vez mais ricas e cidadãos que vivem com mais conforto.

De acordo com ele, porém, há um caminho que leva ao encontro de um modelo onde a sociedade se sinta mais feliz. E esse modelo estaria embasado na capacidade da sociedade em se sentir bem com o decrescimento, ao invés de querer produzir e consumir cada vez mais. Nas palavras do sociólogo, “quando todos querem andar muito rápido acabam se atolando e não conseguem chegar a lugar nenhum”. Por isso, na visão dele, São Paulo é uma das cidades mais  lentas do mundo, onde todos estão o tempo todo num ritmo acelerado e acabam não conseguindo produzir o tanto que queriam. Para Cristovam Buarque, essa ânsia por aceleração e crescimento também acaba por levar a uma escassez de recursos: “Quando todos querem consumir muito, os recursos acabam”.

Domenico de Masi citou que com a chegada da sociedade pós-industrial, principalmente com as oportunidades que as novas tecnologias nos trazem, acabamos seguindo por um caminho em que pais trabalham muito e os mais jovens estão desempregados. Ele lamentou não estarmos escolhendo pela alternativa de todos trabalharmos menos e sermos felizes.

Por isso, o pesquisador defende que haja uma redução drástica da jornada de trabalho e que se possa ter mais tempo livre para que possamos exercer nossa criatividade. Segundo ele, é preciso que nos eduquemos mais para como utilizar o tempo livre, e não o tempo de trabalho: “o futuro é condicionado pelo tempo livre, e não pelo tempo de trabalho”. Para ele, se adotássemos uma jornada de 15 horas de trabalho semanal, produziríamos mais e poderíamos aumentar os salários.

Para o sociólogo, existem três diferentes formas de trabalho: o operário tradicional, o intelectual executivo e o intelectual criativo. O primeiro deles exerceria um trabalho braçal, que exige força física e cansa o corpo. O intelectual executivo, mais comum na sociedade atual, seria aquele que exerce um trabalho que não exige esforço físico, mas um trabalho intelectual mais mecânico. O intelectual criativo, na visão do pesquisador, é o mais importante e aquele que mais precisa ser desenvolvido em nossa sociedade. Isso porque os dois primeiros poderiam ser substituídos pelas ferramentas tecnológicas.

Segundo de Masi, desde pequenos fomos educados a trabalharmos por obrigação, e não por prazer, e acabamos vivendo como se não tivéssemos às mãos a tecnologia para nos auxiliar, o que nos faz utilizar de forma insuficiente essas ferramentas. Nas palavras dele: “temos possibilidades de sermos felizes, mas somos masoquistas”.

Essa educação imposta pela cultura em que vivemos fez que os intelectuais de nossa geração se tornassem mais pessimistas, e isso é incentivado por diversas instituições, principalmente a mídia e os jornalistas. Na visão do sociólogo, temos que lutar pelo otimismo e superar esse modelo onde as pessoas vivem correndo “de casa para o shopping”. Inclusive, segundo ele, a possibilidade se trabalhar em casa diminuiria diversos problemas, principalmente o do trânsito nas grandes cidades.

Mas, segundo Domenico de Masi, o Brasil tem grandes possibilidades de avançar no sentido de uma sociedade menos “desorientada”. Isso porque somos um povo pacífico e mestiço. Por isso, nossos intelectuais podem contribuir fortemente n construção de um novo modelo que valorize o trabalho criativo.

Remetendo-se às ideias de Darcy Ribeiro, possuímos um modelo único, formado por uma identidade mestiça baseada principalmente em três matrizes (indígena, portuguesa e africana). Para o sociólogo, nós brasileiros costumamos subestimar a matriz indígena, quando temos muito que aprender com ela. Na visão dele, os indígenas, que já estavam aqui antes dos portugueses chegarem, não tinham necessidade do trabalho econômico e possuíam tempo para produzir obras de arte incríveis. Isso é que nos falta, na visão do sociólogo.

Segundo ele, por 450 anos o Brasil copiou a cultura europeia e nos últimos 50 anos vem copiando a cultura norte-americana. Uma vez que esses dois modelos estão em crise, sua sugestão é de que nós recriemos nosso próprio modelo, e temos elementos para isso.

Leia o texto da palestra na íntegra.


Zapping - UnBTV

Na quarta Sessão Pública da comissão UnB.Futuro Eric Rabkin discutiu as perspectivas da educação para o futuro. Veja a matéria produzida pela UnBTV sobre o evento.

Coordenação:

Decanato de Pesquisa e Pós-Graduação (DPP),  em parceria com o Núcleo do Futuro (n.Futuros/CEAM)

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